ENEM Ano 2016 3a Aplicação

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Área de conhecimento: LCT - Linguagens, Códigos e suas Tecnologias

Matéria: Português


Questão 107

Um menino aprende a ler


  Minha mãe sentava-se a coser e retinha-me de livro na mão, ao lado dela, ao pé da máquina de costura. O livro tinha numa página a figura de um bicho carcunda ao lado do qual, em letras graúdas, destacava-se esta palavra: ESTÔMAGO. Depois de soletrar "es-to-ma-go", pronunciei "estómago". Eu havia pronunciado bem as duas primeiras palavras que li, camelo e dromedário. Mas estômago, pronunciei estómago. Minha mãe, bonita como só pode ser mãe jovem para filho pequeno, o rosto alvíssimo, os cabelos enrolados no pescoço, parou a costura e me fitou de fazer mêdo: "Gilberto!" Estremeci. "Estómago? Leia de nôvo, soletre." Soletrei, repeti: "Estomágo." Foi o diabo.

  Jamais tinha ouvido, ao que lembrasse então, a palavra estômago. A cozinheira, o estribeiro, os criados, Bernanda, diziam "estambo". "Estou com uma dor na bôca do estambo..." "Meu estambo está tinindo..." Meus pais teriam pronunciado direito na minha presença, mas eu não me lembrava. E criança, como o povo, sempre que pode repele o proparoxítono.

AMADO, G. História da minha infância. Rio de Janeiro:  José Olympo, 1958

No trecho, em que o narrador relembra um episódio de sua infância, revela-se a possibilidade de a língua se realizar de formas diferentes. Com base no texto, a passagem em que se constata uma marca de variedade linguística pouco prestigiada é:

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Fonte: Exame Nacional do Ensino Médio - ENEM 2016