Simulado Câmara Municipal de Belo Horizonte - CMBH | Técnico Legislativo II | 2019 pre-edital | Questão 46

Língua Portuguesa / Conhecimento da língua / Ortografia


Medo e preconceito O tema é espinhoso. Todos somos por ele atingidos de uma forma ou de outra, como autores ou como objetos
dele. O preconceito nasce do medo, sua raiz cultural, psíquica, antropológica está nos tempos mais primitivos – por isso
é uma postura primitiva –, em que todo diferente era um provável inimigo. Precisávamos atacar antes que ele nos
destruísse. Assim, se de um lado aniquilava, de outro esse medo nos protegia – a perpetuação da espécie era o impulso
primeiro. Hoje, quando de trogloditas passamos a ditos civilizados, o medo se revela no preconceito e continua
atacando, mas não para nossa sobrevivência natural; para expressar nossa inferioridade assustada, vestida de
arrogância. Que mata sob muitas formas, em guerras frequentes, por questões de raça, crença e outras, e na agressão a
pessoas vitimadas pela calúnia, injustiça, isolamento e desonra. Às vezes, por um gesto fatal.
Que medo é esse que nos mostra tão destrutivos? Talvez a ideia de que "ele é diferente, pode me ameaçar",
estimulada pela inata maldade do nosso lado de sombra (ele existe, sim).
Nossa agressividade de animais predadores se oculta sob uma camada de civilização, mas está à espreita – e
explode num insulto, na perseguição a um adversário que enxovalhamos porque não podemos vencê-lo com honra, ou
numa bala nada perdida. Nessa guerra ou guerrilha usamos muitas armas: uma delas, poderosa e sutil, é a palavra.
Paradoxais são as palavras, que podem ser carícias ou punhais. Minha profissão lida com elas, que desde sempre me
encantam e me assombram: houve um tempo, recente, em que não podíamos usar a palavra "negro". Tinha de ser
"afrodescendente", ou cometíamos um crime. Ora, ao mesmo tempo havia uma banda Raça Negra, congressos de
Negritude... e afinal descobrimos que, em lugar de evitar a palavra, podíamos honrá-la. Lembremos que termos usados
para agredir também podem ser expressões de afeto. “Meu nego”, “minha neguinha”, podem chamar uma pessoa
amada, ainda que loura. “Gordo”, tanto usado para bullying, frequentemente é o apelido carinhoso de um amigo, que
assim vai assinar bilhetes a pessoas queridas. Ao mesmo tempo, palavras como “judeu, turco, alemão” carregam, mais
do que ignorância, um odioso preconceito.
De momento está em evidência a agressão racial em campos esportivos: “negro”, “macaco” e outros termos,
usados como chibata para massacrar alguém, revelam nosso lado pior, que em outras circunstâncias gostaríamos de
disfarçar – a grosseria, e a nossa própria inferioridade. Nesses casos, como em agressões devidas à orientação sexual, a
atitude é crime, e precisamos da lei.
No país da impunidade, necessitamos de punição imediata, severa e radical. Me perdoem os seguidores da ideia de
que até na escola devemos eliminar punições do “sem limites”. Não vale a desculpa habitual de “não foi com má
intenção, foi no calor da hora, não deem importância”. Temos de nos importar, sim, e de cuidar da nossa turma, grupo,
comunidade, equipe ou país. Algumas doenças precisam de remédios fortes: preconceito é uma delas.
“Isso não tem jeito mesmo”, me dizem também. Acho que tem. É possível conviver de forma honrada com o
diferente: minha família, de imigrantes alemães aqui chegados há quase 200 anos, hoje inclui italianos, negros,
libaneses, portugueses. Não nos ocorreria amar ou respeitar a uns menos do que a outros: somos todos da velha raça
humana. Isso ocorre em incontáveis famílias, grupos, povos. Porque são especiais? Não. Simplesmente entenderam que
as diferenças podem enriquecer.
Num país que sofre de tamanhas carências em coisas essenciais, não devíamos ter energia e tempo para perseguir
o outro, causando-lhe sofrimento e vexame, por suas ideias, pela cor de sua pele, formato dos olhos, deuses que venera
ou pessoa que ama. Nossa energia precisa se devotar a mudanças importantes que o povo reclama. Nestes tempos de
perseguição, calúnia, impunidade e desculpas tolas, só o rigor da lei pode nos impedir de recair rapidamente na velha
selvageria. Mudar é preciso. (LUFT, Lya. 10 de setembro, 2014 – Revista Veja.)

Leia as frases seguintes. Em uma delas há INCORREÇÃO quanto à ortografia das palavras. Assinale-a.

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Fonte: ANALISTA JUDICIáRIO - ENFERMAGEM / TRF 2ª / 2017 / CONSULPLAN