Simulado Empresa de Pesquisa Energética - EPE | Assistente Administrativo | 2019 pre-edital | Questão 8

Língua Portuguesa / Acentuação gráfica


De quem são os meninos de rua? Eu, na rua, com pressa, e o menino segurou no
meu braço, falou qualquer coisa que não entendi. Fui
logo dizendo que não tinha, certa de que ele estava
pedindo dinheiro. Não estava. Queria saber a hora.
Talvez não fosse um Menino De Família, mas
também não era um Menino De Rua. É assim que a
gente divide. Menino De Família é aquele bem-vesti-
do com tênis da moda e camiseta de marca, que usa
relógio e a mãe dá outro se o dele for roubado por
um Menino De Rua. Menino De Rua é aquele que
quando a gente passa perto segura a bolsa com força
porque pensa que ele é pivete, trombadinha, ladrão.
Ouvindo essas expressões tem-se a impressão
de que as coisas se passam muito naturalmente,
uns nascendo De Família, outros nascendo De Rua.
Como se a rua, e não uma família, não um pai e uma
mãe, ou mesmo apenas uma mãe os tivesse gerado,
sendo eles filhos diretos dos paralelepípedos e das
calçadas, diferentes, portanto, das outras crianças,
e excluídos das preocupações que temos com elas.
É por isso, talvez, que, se vemos uma criança bem-
-vestida chorando sozinha num shopping center ou
num supermercado, logo nos acercamos protetores,
perguntando se está perdida, ou precisando de al-
guma coisa. Mas, se vemos uma criança maltrapilha
chorando num sinal com uma caixa de chicletes na
mão, engrenamos a primeira no carro e nos afasta-
mos pensando vagamente no seu abandono.
Na verdade, não existem meninos DE rua. Exis-
tem meninos NA rua. E toda vez que um menino está
NA rua é porque alguém o botou lá. Os meninos não
vão sozinhos aos lugares. Assim como são postos
no mundo, durante muitos anos também são postos
onde quer que estejam. Resta ver quem os põe na
rua. E por quê.
[...]
Quem leva nossas crianças ao abandono?
Quando dizemos “crianças abandonadas”, subenten-
demos que foram abandonadas pela família, pelos
pais. E, embora penalizados, circunscrevemos o pro-
blema ao âmbito familiar, de uma família gigantesca
e generalizada, à qual não pertencemos e com a qual
não queremos nos meter. Apaziguamos assim nossa
consciência, enquanto tratamos, isso sim, de cuidar
amorosamente de nossos próprios filhos, aqueles
que “nos pertencem”.
Mas, embora uma criança possa ser abandona-
da pelos pais, ou duas ou dez crianças possam ser
abandonadas pela família, 7 milhões de crianças só
podem ser abandonadas pela coletividade. Até re-
centemente, tínhamos o direito de atribuir esse aban-
dono ao governo, e responsabilizá-lo. Mas, em tem-
pos de Nova República * , quando queremos que os
cidadãos sejam o governo, já não podemos apenas
passar adiante a responsabilidade.

* Nova República : termo usado à época em que a crônica foi escrita
(1986) para designar o Brasil no período após o fim do regime militar.
COLASANTI, Marina. A casa das palavras . São Paulo:
Ática, 2002. Adaptado.

Algumas palavras são acentuadas com o objetivo exclusivo de distingui-las de outras.
Uma palavra acentuada com esse objetivo é a seguinte:

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Fonte: ASSISTENTE TéCNICO ADMINISTRATIVO - PROGRAMADOR DE COMUTADOR / Casa da Moeda / 2012 / CESGRANRIO