País precisa racionalizar
consumo de eletricidade? Há previsão de chuvas para a maior parte das regiões do país
nos próximos dias. Ainda assim, por força da longa estiagem que
afetou o Sudeste e o Centro‐Oeste, o Operador Nacional do
Sistema Elétrico (NOS) trabalha com uma estimativa de que no
atual período úmido o volume de chuvas não ultrapasse 67% da
média histórica nas áreas que abrigam os principais reservatórios
das hidrelétricas.
No Sudoeste, o volume de água acumulada nos reservatórios
caiu para o mesmo patamar registrado em igual período em 2001
(34%), ano em que o país teve de recorrer a um programa de
racionamento de eletricidade. Desde então muita coisa
aconteceu para reduzir a necessidade de um novo racionamento.
Linhas de transmissão foram instaladas, aumentando a
capacidade de transferência de eletricidade de uma região para
outra (em 2001, de fato, a energia que sobrava no Sul ou no
Norte não pôde ser transferida para o Sudeste e o Nordeste).
O parque gerador também recebeu considerável reforço de
usinas termoelétricas e há uma crescente contribuição da energia
eólica, ainda que em termos relativos essa participação não
ultrapasse 1% da eletricidade consumida.
Mas a verdade é que a oferta de energia depende agora dos
humores de São Pedro. A hidroeletricidade responde por mais de
70% da capacidade de geração, e praticamente todas as novas
usinas hidráulicas operam a fio d’água, ou seja, dependem da
vazão dos rios. Se estivessem concluídas, as usinas de Jirau e
Santo Antônio, no Madeira, e Belo Monte, no Xingu, poderiam
estar operando a plena capacidade em face da grande cheia dos
rios que as abastecem.
Os reservatórios remanescentes não mais asseguram o
suprimento de eletricidade do país por vários anos, e sim por
meses.
Em pleno período úmido, quando a ocorrência de chuvas
abundantes ainda é possível, talvez não faça sentido a adoção já
de um plano de racionamento de energia. Com a economia
crescendo pouco, o racionamento precipitado poderia ter
impacto negativo desnecessário sobre a produção, já debilitada
por outros fatores. No entanto, como a situação dos
reservatórios está em ponto crítico e a previsão de chuvas é
incerta, o mínimo que se deveria esperar das autoridades seria
um esforço em prol da racionalização do uso de energia, como
primeira iniciativa. No passado, a população e os setores
produtivos deram provas de que respondem com presteza aos
estímulos à racionalização do consumo de eletricidade. E, se
preciso for, todos estariam preparados para o racionamento, em
um segundo momento.
O que não pode é o governo ficar de braços cruzados, por
causa do ano eleitoral, fingindo que não há qualquer risco de
desabastecimento. Por causa de seus interesses políticos, o
governo não deveria jogar com a sorte e expor a população a
uma situação com consequências muito sérias se o país tiver de
ser submetido, mais tarde, a um forte racionamento de energia. (Opinião, O Globo, 07/03/2014)
Assinale a opção que mostra um antônimo adequado.