Simulado Polícia Civil do Ceará - PCCE | Escrivão de Polícia | 2019 pre-edital | Questão 222

Língua Portuguesa / Classes de palavras / Substantivo, adjetivo, advérbio


Condenados à vida “Ele tem dezesseis anos, um câncer de boca horroroso, mal
anda, mas o médico disse que faz a remoção da mandíbula e uma
abertura no estômago para ele se alimentar. Eu queria que ele
morresse logo, não tenho dinheiro.”
Tratava-se de um cão idoso, sofrendo e atormentando a vida
da minha paciente.
O que aconteceu com a morte, que nem é mais permitida aos
animais que sofrem, que dirá a nós humanos?
Ano de 1973, um dos meus pacientes era um velhinho com
câncer de fígado que finalmente teve uma parada cardíaca na
minha frente.
Iniciei logo os processos de reanimação (massagem cardíaca
etc). Debalde. O chefe de clínica, meu hoje amigo Prof. Alvariz,
me chamou: “Daudt, aquilo não se chama parada cardíaca.
Chama-se MORTE. É necessário saber a diferença”.
Parece que nós, médicos, em particular, e a sociedade, em
geral, perdemos a noção dessa preciosa diferença, e estamos in-
fligindo um tormento artificial a nós mesmos e aos infelizes sob
nossos cuidados.
Aos médicos, a diferença não é ensinada nas faculdades.
Pelo contrário. A morte é vista como uma inimiga a ser combati-
da a quaisquer “custo$”, saídos dos nossos bolsos.
E o inferno não atinge só os terminais. Ele se estende aos
iniciais que não deveriam ter iniciado.
A mãe natureza vem expulsando embriões inviáveis desde
sempre, em diversas fases da gestação. O aborto de fetos anencé-
falos foi consentido a duras penas, e ainda revolta muitos.
A compulsão de “salvar vidas” atinge prematuros malfor-
mados (outrora inviáveis) ao ponto de vegetarem por meses ou
anos, aprisionando e desgraçando familiares pobres.
Os médicos deste circo de horrores têm um lema sinistro:
“No meu plantão, não!” E se desdobram em manobras heroicas
para prolongar a existência daquele ser sem perspectivas, com a
crueldade adicional de dar esperança às famílias.
Até há pouco tempo, morria-se em casa, sabendo que se ia
morrer, cercado de carinho da família, dizendo suas últimas pa-
lavras, num rito de despedida que incluía a morte como parte da
vida, e como um momento digno.
Hoje, varremos nossos moribundos para debaixo de uma
UTI, que nos “poupa de assistir o horror”.
Pude proporcionar esse momento digno a minha mãe de
95 anos. Ela já estava na maca para ser levada à ambulância
quando cheguei. “Podem voltar, que ela quer morrer em casa”.
O médico apertou minha mão, solidário e comovido.
Posta em sua cama, minha mãe disse: “Que bom, voltei ao
meu cantinho”. E morreu como queria. (Francisco Daudt. Folha de S.Paulo, 02 de abril de 2014. Adaptado)

Considerando que o adjetivo é uma palavra que modifica
o substantivo, com ele concordando em gênero e número,
assinale a alternativa em que a palavra destacada é um
adjetivo.

Voltar à pagina de tópicos Próxima

Fonte: AUXILIAR DE NECROPSIA / Polícia Civil/SP / 2014 / VUNESP