Simulado Polícia Civil do Ceará - PCCE | Inspetor de Polícia | 2019 pre-edital | Questão 235

Língua Portuguesa / Crase


Sob ordens da chefia Ah, os chefes! Chefões, chefinhos, mestres, gerentes, dire-
tores, quantos ao longo da vida, não? Muitos passam em brancas
nuvens, perdem-se em suas próprias e pequenas histórias. Mas
há outros cujas marcas acabam ficando bem nítidas na memória:
são aqueles donos de qualidades incomuns.
Por exemplo, o meu primeiro chefe, lá no finalzinho dos
anos 50: cinco para as oito da noite, e eu começava a ficar afli-
to, pois o locutor do horário ainda não havia aparecido. A rádio
da pequena cidade do interior, que funcionava em três horários,
precisava abrir às oito e como fazer? Bem, o fato é que eu era o
técnico de som do horário, precisava “passar” a transmissão lá
para a câmara, e o locutor não chegava para os textos de abertu-
ra, publicidade, chamadas. Meu chefe, de lá, tomou a iniciativa:
– Ei rapaz, deixe ligado o microfone, largue isso aí, vá pro es-
túdio e ponha a rádio no ar. Vamos lá, firme, coragem! – foi a
minha primeira experiência: fiz tudo como mandava e ele pôde,
assim, transmitir tudo sem problemas.
No dia seguinte, muita apreensão logo de manhã, aguardan-
do o homem. Será que tinha alguma crítica? Mas eis que ele
chega, simpático e sorridente como sempre, e me abraça.
– Muito bem! Você está aprovado. Quer começar amanhã
na locução?
Alguns meses antes do seu falecimento, reencontrei-o num
lançamento de livro: era o mesmo de cinquenta e tantos anos
atrás: magrinho, calva luzidia, falante, sempre cheio de planos
para o futuro.
E o chefe das pestanas brancas, anos depois: estremecíamos
quando ele nos chamava para qualquer coisa, fazendo-nos en-
trar na sua sala imensa, já suando frio e atentos às suas finas e
cortantes palavras. Olhar frio, imperturbável, postura ereta, ágil,
sempre trajando ternos impecáveis. Suas atitudes? Dinâmicas,
surpreendentes.
Uma vez, precisando de algumas instruções, perguntei a sua
secretária se poderia “entrar”.
– Não vai dar. – Respondeu-me ela. – Está ocupadíssimo,
em reunião. Mas volte aqui um pouco mais tarde. Vamos ver!
Voltei uns cinquenta minutos depois, cauteloso, e quase não
acreditei no que ouvi: – Sinto muito, o chefe está viajando para
a Alemanha.
Era bem diferente daquele outro da mesma empresa, descon-
traído, amigão de todos: não era somente um chefe, era um líder,
bem conhecido entre os revendedores. Todos sentíamos prazer
em trabalhar com ele, e para ele. Até quando o serviço resultava
numa sonora bronca – sempre justificada, é claro. Jeitão simples,
de fino humor, tratava tudo com o tempero da sua criatividade
nata. “Punha para frente” até quem precisava demitir: intercedia
lá fora em seu favor, o que víamos com nossos próprios olhos.
Não chamava ninguém do seu pessoal a toda hora, a não ser
que o assunto fosse sério mesmo: se tinha algo a tratar no dia a
dia, chegava pessoalmente, numa boa, às vezes até sentava numa
de nossas mesas para expor o assunto. Aliás, era o único chefe
que se lembrava de me dar um abraço e dizer “parabéns” no dia
do meu aniversário. (Gustavo Mazzola, Correio Popular, 04.09.2013, http://zip.net/brl0k3. Adaptado)

7 PCSP1303/001-EscrivãoPolícia

A passagem que permanece correta após o acréscimo do acento indicativo de crase, por seu uso ser facultativo no contexto, é:

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Fonte: ESCRIVãO DE POLíCIA / Polícia Civil/SP / 2014 / VUNESP