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Já nos primeiros encontros, três coisas em Manoela impres-
sionaram Jorge: a beleza, a inteligência e, detalhe surpreendente,
a força com que ela o abraçara. Jorge acabou perguntando-lhe a
respeito daquela força. E ela revelou algo de que ainda não tinha
falado; eu sou judoca. Já participei até de campeonatos de judô.
E mostrou fotos de seus treinamentos no tatame. E, emocionada,
disse que seu grande sonho era ser uma das vencedoras do cam-
peonato mundial. Jorge cumprimentou-a pelo judô e disse que se
sentiria orgulhoso de namorar uma lutadora. No que estava sendo
sincero. Mas, nos dias que se seguiram, começou a pensar que
aquilo talvez não fosse tão bom assim. Imaginava os dois juntos:
por alguma razão surgia um motivo de discussão, logo estariam
batendo boca e o que aconteceria se ela resolvesse atacá-lo a gol-
pes de judô? Era uma coisa para a qual absolutamente não estava
preparado. Levaria uma surra.
Outro veria nisso um bom motivo para terminar o incipiente
namoro. Não ele. Gostava de fato da garota e ela correspondia,
exteriorizando o mesmo sentimento. Queria continuar com ela,
mas como fazê-lo sem correr riscos? Uma ideia então lhe ocorreu:
iria, ele próprio, tornar-se judoca. Tudo o que queria era poder
defender-se em caso de emergência. Assim, como costumava
fazer, colocou seu incrível chapéu verde-garrafa e, em segredo,
procurou uma pequena academia de judô, pediu para falar com
o instrutor. Era uma instrutora: Teresa, jovem como ele, bonita,
simpática. Sim, ela disse, posso lhe ensinar as coisas básicas do
judô. O preço também era acessível, de modo que Jorge, sem
hesitar, inscreveu-se no curso.
Um mês depois, já lutava judô. Mas um problema inesperado
surgira: alguma coisa estava rolando entre ele e Teresa, a jovem
instrutora. O que o deixou assustado: meu Deus, perguntava. Será
que minha sina é apaixonar-me por lutadoras de judô?
Até agora Jorge não decidiu qual das duas vai continuar
namorando. Mas sabe que há um jeito de decidir essa questão:
promoverá um torneio em que as duas irão se enfrentar. E ficará
com uma delas. A que for derrotada, claro! Em termos de precau-
ção, é o mínimo que ele pode exigir: uma namorada que possa
enfrentar com mais segurança. (Moacyr Scliar, Folha de S.Paulo, 27.09.2010. Adaptado)

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Língua Portuguesa / Sentido próprio e figurado das palavras