Simulado Conselho de Arquitetura e Urbanismo de São Paulo - CAU/SP | Analista I – Analista Administrativo | 2020 | Questão 255

Língua Portuguesa / Leitura e interpretação de diversos tipos de textos (literários e não literários)


Pouco antes de eu completar quatro anos de idade, nas-
ceu nossa irmã mais nova, para quem eu escolhera o nome
de Maria Bethânia, por causa de uma bela valsa do com-
positor pernambucano Capiba. Mas ninguém se sentia com
coragem de realmente pôr esse nome “tão pesado” num
bebê. Como havia várias outras sugestões, meu pai resol-
veu escrever todos os nomes em pedacinhos de papel que,
depois de dobrados, ele jogou na copa de meu pequeno cha-
péu de explorador e me deu para tirar na sorte. Saiu o da
minha escolha. Meu pai então pôs um ar resignado que era
uma ordem para que todos também se resignassem e dis-
se: “Pronto. Agora tem que ser Maria Bethânia”. E saiu para
registrar a recém-nascida com esse nome. Recentemente,
ouvi de minhas irmãs mais velhas uma versão que diz que
meu pai escrevera Maria Bethânia em todos os papéis. Não
é de todo improvável. E, de fato, na expressão resignada de
meu pai era visível – ainda hoje o é, na lembrança – um intri-
gante toque de humor. Mas, embora me encha de orgulho o
pensamento de que meu pai possa ter trapaceado para me
agradar, eu sempre preferi crer na autenticidade do sorteio:
essa intervenção do acaso parece conferir mais realidade a
tudo o que veio a se passar desde então, pois ela faz cresce-
rem ao mesmo tempo as magias (que nos dão a impressão
de se excluírem mutuamente) do presságio e da unicidade
absolutamente gratuita de cada acontecimento.
(Caetano Veloso. Verdade tropical. São Paulo,
Companhia das Letras, 1997. Adaptado)

A partir da leitura do último período do texto, pode-se
concluir que, para o autor,

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Fonte: ENFERMEIRO / Pref. Campinas/SP / 2019 / VUNESP