Simulado Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social - BNDES | Técnico Administrativo | 2019 pre-edital | Questão 97

Língua Portuguesa / Flexão nominal e verbal


Juventudes Pois se ainda ontem eu era jovem, conforme me as-
seguravam, asseguro-lhes que ainda hoje minha juventude não
acabou. Se viesse a acabar, estaria tão velho que não saberia
disso − o que significa que serei eternamente jovem. Preciso
acrescentar: nada tenho de especial, todos os jovens da minha
idade (isto é, acima dos 60) sabem disso. Não adianta os es-
pelhos (por que se espalham por toda parte?) pretenderem
mostrar o contrário, jogar-nos na cara nossa imagem envelhe-
cida. Nós sabemos que eles mentem, sabemos que não têm
como refletir nosso espírito − daí se vingarem, refletindo tão so-
mente o que aparece.
Vou mais longe: não é que não envelheçamos, com es-
sa mania que tem o tempo de nunca parar; na verdade, quanto
mais anos vivemos, mais remoçamos. Alguns vivem até recu-
perar de vez − para nunca mais largar dela − a liberdade da in-
fância. Enquanto lá não chego (esperando chegar), vou remo-
çando, remoçando, a ponto dos jovens de dezenove anos me
pedirem mais moderação, mais compostura. Toda vez que fa-
zem isso, surpreendo, no fundo de seus olhos, uma inveja inco-
mensurável: inveja da minha adolescência verdadeira.
É verdade que a natureza, que tem lá seus caprichos,
gosta de brincar com nossa juventude de sexagenários. Ela faz,
por exemplo, o chão parecer mais longe: custa-nos chegar a
ele, para apanhar aquela moedinha. Brinca, ainda, com nosso
senso de equilíbrio: um volteio mais rápido do corpo e parece
que a Terra subitamente acelerou a rotação. E já não podemos
saltar imitando um saci, sobre os quadrados marcados a giz na
calçada das brincadeiras: mesmo duas pernas mostram-se in-
suficientes para retomar o equilíbrio.
Enfim: valha esta mensagem para todos os jovens que
ainda acreditam na velhice. Bobagem, meus amiguinhos: a ve-
lhice não chega nunca, é mais uma ilusão da juventude. Não
adianta o corpo insistir em dar todos os sinais de mau funciona-
mento, inútil insistirem as bactérias em corromper nossos teci-
dos, inútil os olhos perderem a luz de dentro e a luz de fora:
morremos sempre jovens, espantados por morrer, atônitos com
essa insistência caprichosa e absurda da natureza, de vir ceifar
nossa vida exatamente quando desfrutamos do esplendor de
nossa juventude mais madura. (Adamastor Rugendas, inédito)

Está plenamente adequada a correlação entre tempos e modos verbais na frase:

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Fonte: ANALISTA MINISTERIAL - REDE E INFRAESTRUTURA / MPE/MA / 2013 / FCC