Simulado Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro - TJ-RJ | Analista Judiciário - Análise de Sistemas | 2019 pre-edital | Questão 320

Português / Vozes do verbo


Nos últimos dias, fomos bombardeados com estatísticas e
reportagens alarmantes sobre pais angustiados por não poder
gastar o mesmo que gastaram no ano de 2014 no dia da criança
− em letras minúsculas. Não acredito em dia da criança em
maiúsculas. Não há celebração da infância (ou da maternidade e
paternidade) que careça de compras. Todos sabemos que são
datas para movimentar o comércio e nada há de errado em aque-
cer a atividade econômica. Mas, no caso das crianças, que não
compreendem a comercialização do afeto, é triste ver pais se
desculpando por não poder comprar algo como se isto represente
uma falha em demonstrar dedicação aos filhos. Falar de dinheiro
com os filhos parece quase tão difícil quanto falar de sexo.
Num distante longo feriado, visitando uma família querida
na costa oeste americana, me surpreendi com a naturalidade de
uma menina de oito anos, quando perguntei: “Qual é o plano para
amanhã?”. “Compras”, foi a resposta. A menina não me disse que
precisava de um casaco de inverno ou um livro para a escola. É
possível que nada lhe faltasse no momento, mas o programa
seria comprar, verbo intransitivo. Minha surpresa era explicada
pelo choque de cultura e geração. Crescendo no Rio de Janeiro,
o verbo comprar como uma atividade, tal como ir à praia ou ao
teatro, não era usado por crianças.
Um jornalista americano, que foi um dos inventores da
cobertura sobre finanças pessoais, lançou, este ano, o livro O
Oposto de Mimados: Criando Filhos Generosos, Bem Funda-
mentados e Inteligentes Sobre Dinheiro. Ron Lieber começou a
ser emparedado pela própria filha de três anos com perguntas
sobre dinheiro que o faziam engasgar. Ele se deu conta de que
uma das maiores ofensas que se pode fazer a mães e pais é
descrever seus filhos como mimados. O verbo é passivo.
Mimados por quem?
Assim, não chega a surpreender que pais vejam o im-
pedimento para comprar como um fracasso pessoal. (Adaptado de: GUIMARÃES, Lúcia. Comprar, verbo intransi-
tivo. In: Cultura-Estadão, 12/10/2015)

O segmento que pode ser transposto para a voz passiva
encontra-se em:

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Fonte: TéCNICO JUDICIáRIO - ADMINISTRATIVA / TRE/PB / 2015 / FCC