Ligadas ao uso linguístico, existem sempre, nas
diversas comunidades linguísticas, as modalidades não
normatizadas da língua ao lado de uma modalidade
considerada a norma padrão, à qual se atribuem qualidades
“superiores”: ela seria mais regular, modelar e, portanto,
deveria ser seguida e perseguida.
Isso é particularmente notável na codificação inicial
da gramática ocidental, em que a ameaça do sobrepujamento da
língua grega pelos falares “bárbaros”, “corrompidos” conduziu
determinantemente nesse sentido as lições que os gramáticos
produziam.
Estamos longe de ver o cidadão comum e o professor
reconhecendo que a variação linguística é nada mais que a
manifestação evidente da essência e da natureza da linguagem,
reconhecendo que há um padrão valorizado, sim, mas que
o uso do padrão prestigiado não constitui, em si e
intrinsecamente, um uso de boa linguagem e que essa avaliação
só ocorre pelo viés sociocultural, condicionado pelo viés
socioeconômico.
Na nossa sociedade, já não se verifica a mesma
conjuntura sociopolítica da época da instituição da disciplina
gramatical ocidental. Hoje, nossa língua e literatura não estão
ameaçadas, mas nossas sociedades são extremamente
competitivas, e nelas cada um quer assegurar para si todos os
meios que considera garantidores de inserção social e,
necessariamente, entende que a linguagem de prestígio é um
dos caminhos essenciais para isso. Maria Helena de Moura Neves. Heranças: a gramática. In: Neusa
Barbosa Bastos (Org.). Língua portuguesa: uma visão em mosaico.
São Paulo: IP PUC-DP/EDUC, 2002, p. 43-4 (com adaptações).
Julgue os itens seguintes, relativos ao texto acima.
A expressão pronominal “em que” (L.8) poderia ser substituída
corretamente pelo pronome cuja.
Fonte: ANALISTA LEGISLATIVO - TAQUíGRAFO LEGISLATIVO / Câmara dos Deputados / 2012 / CESPE