Simulado Departamento Penitenciário Nacional - DEPEN | Agente Penitenciário | 2019 pre-edital | Questão 104

Língua Portuguesa / Tipologia textual


A democracia já não se reduz a uma esperança, não é
mais uma questão, não é apenas um direito, não é somente o
apanágio de uma cidade ilustrada como Atenas, ou de um
grande povo como o romano: é mais, é tudo nas sociedades
modernas. De mera previsão, converteu-se em fato; de opinião
controversa, transformou-se em realidade viva; deixou de ser
puro direito para ser direito e força; passou de simples
fenômeno local a lei universal e onipotente.
Enquanto alguns discutem ainda se ela deve ser, já ela
é. Como o crescer silencioso, mas incessante, do fluxo do
oceano, sobe e espraia-se calada, mas continuamente. Cada
onda que se aproxima, e recua depois, estende os limites do
poderoso elemento. Os espíritos que não veem muito
deixam-se dormir, entretanto, recostados indolentemente à
margem que as águas não tardarão em invadir, porque a
enchente cresce linha a linha sem que a percebam, e, como a
onda retrocede sempre, parece-lhes que, retrocedendo, perdeu
todo o terreno vencido. Embora alguma onda mais impetuosa,
como que os advertindo, jogue de longe sobre eles a espuma.
Riem dela, porque a veem retrair-se logo após; persuadidos de
que têm subjugado o oceano quando mandam pelos seus
serviçais antepor-lhe a cautela de algum quebra-mar que dure
pela vida de uma ou duas gerações. Cuidam ter desse modo
segurado a sua casa e o futuro dos filhos. Mas o frágil
anteparo, minado pela ação imperceptível das águas,
esboroa-se um bom dia, malogrando-lhes os cálculos, quando
não mais que isso.
A aristocracia teve a sua época e passou. A realeza
teve a sua, e extinguiu-se também. Chegou a vez da
democracia, e esta permanecerá para sempre. Por quê? Porque
a aristocracia era a sujeição de todos a poucos, era o privilégio,
a hereditariedade, que, na propriedade individual, é legítima,
por ser consequência do trabalho, mas que, em política, é
absurda, porque exclui do governo a vontade dos governados
e submete o merecimento à incapacidade. A realeza também
era o privilégio, ainda mais restrito, mais concentrado,
personificado em um indivíduo, circunscrito a uma família.
A democracia, essa é a negação das castas, das exclusões
arbitrárias, e a consagração do direito: por isso, não morre.
Rui Barbosa. Obras completas de Rui Barbosa.
Vol. I (1865-1871), tomo I, p. 19-20. Internet:
(com adaptações).

Julgue os itens relativos às ideias e a aspectos
linguísticos do texto acima.

Utilizando-se de metáforas, o autor constrói texto
argumentativo em que a democracia é retratada como o oceano
e suas ondas, e os que nela não creem, representados como os “espíritos que não veem muito” (L.13).

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Fonte: TéCNICO LEGISLATIVO - AGENTE DE POLíCIA LEGISLATIVA / Câmara dos Deputados / 2014 / CESPE