Simulado Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento - MAPA | Administrador | 2019 pre-edital | Questão 282

Língua Portuguesa / Compreensão e interpretação de textos


A ética epicurista é basicamente um hedonismo. Mas o
hedonismo epicurista, embora considere todo prazer como cor-
póreo, não legitima qualquer tipo de prazer. Faz-se necessário
distinguir o verdadeiro prazer, estável, dos prazeres que resul-
tam em pesares ou partem de carências. O primeiro tipo é o
prazer em repouso, diferente do prazer em movimento, que os
cirenaicos consideram o bem buscado pelos homens. Exemplo
de prazer em movimento é sentir sede e saciá-la. O prazer em
repouso, meta do epicurista, não consiste em satisfazer uma
necessidade: é, antes, eliminar a necessidade, atingir a ausên-
cia de dor. Por isso, o prazer prescrito pelo epicurismo opõe-se
à busca desenfreada e ansiosa de bens.
Administrar os desejos, para manter-se "nos limites im-
postos pela natureza" − eis o caminho que conduz à serena feli-
cidade. Esse controle racional da afetividade coloca a existência
humana em sintonia com a natureza das coisas reveladas pela
física e impede que se siga na direção apontada pelo desejo
que não expressa uma necessidade natural, antes constitui im-
posição do meio social em seu aparente progresso. A vida as-
cética e frugal das comunidades epicuristas procura a sereni-
dade resultante da satisfação dos desejos naturais e necessá-
rios: a delícia está na qualidade, não na quantidade dos bens
adquiridos.
Ser mortal, o homem constrói sua liberdade no tempo,
no tempo desta vida, que deve ser transformado em tempo de
felicidade. O epicurismo considera, com efeito, que além do
mundo imediato, captado pelas sensações, há também um pla-
no de realidade − igualmente corpórea, porém mais sutil − à dis-
posição do homem: seu acervo de imagens, seu arquivo de
lembranças, simulacros corpóreos de sensações, que ele pode
utilizar para sua felicidade.
De tudo isso resulta o valor atribuído pela ética epicu-
rista ao tempo, ao acúmulo de experiências, ao passado e à
memória, e, consequentemente, à velhice. Dotado de grande
acervo de lembranças, o idoso, segundo Epicuro, possui mais
condições para alcançar a serena felicidade. (Adaptado de: José Américo Motta Pessanha. As delícias do
jardim. In: Ética. Org. Adauto Novaes. São Paulo, Cia. das
Letras, 2007, p. 74 a 76)

O hedonismo epicurista configura-se como

Voltar à pagina de tópicos Próxima

Fonte: ANALISTA JUDICIáRIO - ÁREA JUDICIáRIA / TRT 12ª / 2013 / FCC