Simulado Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento - MAPA | Agente Administrativo | 2019 pre-edital | Questão 183

Língua Portuguesa / Semântica / Interpretação de texto


Com a genial invenção das vogais no alfabeto grego, a
escrita estava se disseminando pela Grécia antiga − e Sócrates,
o homem mais sábio de todos os tempos, temia um desastre.
Apreciador da linguagem oral, achava que só o diálogo, a retó-
rica, o discurso, só a palavra falada estimulava o questiona-
mento e a memória, os únicos caminhos que conduziam ao
conhecimento profundo. Temia que os jovens atenienses, com o
recurso fácil da escrita e da leitura, deixassem de exercitar a
memória e perdessem o hábito de questionar. O grande filósofo
intuiu que a transição da linguagem oral para a escrita seria
uma revolução. E assim foi. Numa direção promissora, porém,
que permitiu o mais esplêndido salto intelectual da civilização
ocidental.
Agora, 2.500 anos depois, estamos às voltas com outra
transição revolucionária. Da cultura escrita para a digital, é uma
mudança de fundamentos como não ocorre há milênios. A
forma física que o texto adquire num papiro de 3.000 anos antes
de Cristo ou numa folha de papel da semana passada não é
essencialmente distinta. Nos dois casos, existem enormes dife-
renças de qualidade e clareza, mas é sempre tinta sobre uma
superfície maleável. Na era digital, a mudança é radical. O livro
eletrônico oferece uma experiência visual e tátil inteiramente
diversa.
Sob qualquer ângulo que se examine o cenário, é um
momento histórico. Desde que os gregos criaram as vogais − o
"aleph" semítico era uma consoante, que virou o "alfa" dos
gregos e depois o "a" do alfabeto latino −, o ato de ler e escre-
ver não sofria tamanho impacto cognitivo. Desde os tipos mó-
veis de Gutenberg, o livro não recebia intervenção tecnológica
tão significativa. O temor é que o universo digital, com abundân-
cia de informações e intermináveis estímulos visuais e sonoros,
roube dos jovens a leitura profunda, a capacidade de entrar no
que o grande filósofo Walter Benjamin chamou de "silêncio
exigente do livro".
Leitura profunda não é esnobismo intelectual. É por meio
dela que o cérebro cria poderosos circuitos neuronais. "O
homem nasce geneticamente pronto para ver e falar, mas não
para ler. Ler não é natural. É uma invenção cultural que precisa
ser ensinada ao cérebro", explica a neurocientista Maryanne
Wolf, autora de obra sobre o impacto da leitura no cérebro. Para
tanto, ele tem de conectar os neurônios responsáveis pela
visão, pela linguagem e pelo conceito. Em suma, precisa rede-
senhar a estrutura interna, segundo suas circunstâncias. Ao
criar novos caminhos, expande sua capacidade de pensar,
multiplicando as possibilidades intelectuais − o que, por sua vez,
ajuda a expandir ainda mais a capacidade de pensar, numa
esplêndida interação em que o cérebro muda o meio e o meio
muda o cérebro. Pesquisadores investigam se a construção dos
circuitos neuronais está sendo afetada nessa mudança para a
era digital. (Adaptado de: André Petry. Veja, 19 de dezembro de 2012, p.
151-6)

Sob qualquer ângulo que se examine o cenário, é um momento histórico. (início do 3º parágrafo)

A afirmativa acima se baseia no fato de que

Voltar à pagina de tópicos Próxima

Fonte: TéCNICO MINISTERIAL - TECNOLOGIA DA INFORMAçãO / MPE/MA / 2013 / FCC