Simulado Polícia Civil do Ceará - PCCE | Escrivão de Polícia | 2019 pre-edital | Questão 232

Língua Portuguesa / Colocação pronominal


O Brasil, a rotatória e os analfabetismos O caro leitor certamente já ouviu e/ou leu matérias a res-
peito do nosso analfabetismo funcional. Estudos recentes in-
formam que apenas 24% dos brasileiros letrados entendem
textos de alguma complexidade.
Nossa dificuldade com o texto é inegável e não escolhe
classe social. Não pense o leitor que ela é ”privilégio” de po-
bres ou de gente pouco escolarizada. A leitura de trabalhos
de conclusão de curso de muitos e muitos alunos de letras
(sim, de letras!) prova que a situação é dramática.
O livro “Problemas de Redação”, do professor Alcir Péco-
ra, mostra que alunos da primeira turma de estudos linguísti-
cos de uma das mais importantes universidades do país con-
cluíram o curso sem a mínima condição de ler e/ou escrever
de acordo com a escolaridade formal que detinham.
Mas o nosso analfabetismo não é apenas verbal, ou seja,
não se limita ao que é expresso por meio da língua; ele é tam-
bém não verbal, isto é, abrange também a dificuldade para
lidar com signos que não se valem da palavra escrita ou dita,
mas, por exemplo, de imagens, de cores etc.
Boa parte da barbárie brasileira pode ser demonstrada
pelo que se vê no trânsito das nossas cidades. Ora por falta
de vergonha, ora por analfabetismo verbal e/ou não verbal
+ falta de vergonha, os brasileiros provamos, um bilhão de
vezes por minuto, que este país não deu certo.
Uma das situações que acabo de citar pode ser ilustrada
pelos semáforos. Decerto os brasileiros conhecemos o que
significam os signos não verbais (as três cores) que há nos
“faróis” ou “sinaleiras”. O desrespeito ao significado desses
signos não decorre do analfabetismo (verbal ou não verbal),
mas da falta de vergonha.
Agora a segunda situação. Nada melhor do que as rota-
tórias para ilustrá-la. Em todos os muitos cantos do mundo
pelos quais já passei, a rotatória é tiro e queda: funciona. Os
motoristas conhecem o significado desse signo não verbal e
respeitam-no. No Brasil, o que mais se vê é gente entrando a
mil na rotatória, literalmente soltando baba, bestas-feras que
são. Quando me aproximo de uma rotatória e já há um carro
dentro dela, paro e dou a preferência. Começa a buzinação. A
ignorância é atrevida, arrogante, boçal. Mas eu aguento: en-
quanto o outro não passa, faço movimentos circulares com a
mão para mostrar ao outro motorista que aquilo é uma rotató-
ria e que ele, por ter entrado antes, é quem tem a preferência.
Quase sempre alguém fura a fila e passa exibindo outro signo
não verbal (dedo médio em riste), mais um a traduzir o nosso
elevado grau de barbárie.
Não sou dos que dizem que este país é maravilhoso, que
a nossa sociedade é maravilhosa. Não há solução para a bar-
bárie brasileira que não comece pela admissão e pela expo-
sição da nossa vergonhosa barbárie de cada dia sob todas
as suas formas de manifestação. A barbárie é filha direta da
ignorância e se manifesta pelo atrevimento inerente à igno-
rância. Falta competência de leitura, verbal e não verbal; falta
educação, formal e não formal. Falta vergonha. Falta delica-
deza. Falta começar tudo de novo. É isso. (Pasquale Cipro Neto, Folha de S.Paulo, 20 de março de 2014. Adaptado)

Considerando-se a colocação pronominal, a expressão em destaque está substituída pelo pronome, de acordo com a norma-padrão da língua portuguesa, em:

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Fonte: SOLDADO - 2ª CLASSE / Polícia Militar/SP / 2014 / VUNESP