Simulado Polícia Civil do Estado do Amapá - PC/AP | Delegado de Polícia | 2019 pre-edital | Questão 832

Língua Portuguesa / Concordância nominal e verbal


Trata-se de uma crônica que o autor escreveu em 1955, quando estava no Chile.
Terremoto Houve pânico em algumas cidades do Norte. A terra tremeu com força e em vários pontos o mar arremeteu contra ela,
avançando duzentos, trezentos metros, espatifando barcos contra o cais e bramindo com estrondo. O povo saiu para as praças e
passou a noite ao relento; algumas construções desabaram, mas o único homem que morreu foi de susto.
Lamentemos essa morte e também os pobres pescadores que perderam seus barcos; mas qualquer enchente carioca dá mais
prejuízo e vítimas. Mas louvemos o maremoto e o terremoto pelo que eles têm de fundamentalmente pânico, pela sua cega, dra-
mática, purificadora intervenção na vida cotidiana, pela sua lição de humanidade e de fatalidade. Talvez seja bom que os homens não
se sintam muito seguros sobre a terra, e que o proprietário de imóvel possa desconfiar de que ele não é tão imóvel assim; que há
diabos loucos no fundo do chão e que eles podem promover terríveis anarquias. A natureza tem outros meios de advertência, como o
raio e a tromba d’água; mas são demônios do céu que nos atacam. E o homem é fundamentalmente um bicho da terra, e é na terra
que ele se abriga e confia; apenas se move no céu e na água, na terra é que está o seu porto e seu pouso. Ele pisa a terra com uma
soberba inconsciente, seguro dela e de si mesmo; só o terremoto consegue lembrar-lhe de maneira fundamental sua condição
precária e vã e o faz sentir-se sem base e sem abrigo. (...)
Não sei que influência tem o terremoto sobre o caráter chileno; sei que muitos poderosos de nossa terra ficariam mais
simpáticos e propensos à filosofia se o nosso bom Atlântico fizesse uma excursão até a rua Barata Ribeiro e o velho Pão de Açúcar
desmoralizasse um slogan de propaganda comercial dando algumas estremeções nervosas.
Houve um tempo em que Deus bastava para tornar humilde o poderoso; hoje seus pesadelos são apenas o comunismo, o
enfarte e o câncer, mas ele já se acostumou a pensar que essas coisas só acontecem aos outros. O terremoto ameaça a terra com
seus bens, e a própria vida; sua ocorrência só pode tornar as pessoas mais amantes da vida e mais conscientes de sua espantosa
fragilidade. E isso faz bem. (BRAGA, Rubem. Ai de ti, Copacabana. Rio de Janeiro: Editora do Autor, 1960, p.17-19)

Quanto à concordância e à articulação entre os tempos e modos, está plenamente adequado o emprego das formas verbais em:

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Fonte: SUPERIOR EM DIREITO / SABESP / 2017 / FCC