Simulado Sec. Estadual de Adm. Penitenciária (SEAP/SP) | Executivo Público | 2019 pre-edital | Questão 195

Língua Portuguesa / Leitura e interpretação de diversos tipos de textos (literários e não literários)


A tecnologia e o futuro do policiamento O policiamento – como todas as demais atividades – está
sendo reimaginado na era das montanhas de dados, sob a
expectativa de que uma análise mais ampla e profunda s obre
crimes passados, combinada a algoritmos1 sofisticados, pos-
sa ajudar a prever futuros delitos. Trata-se de uma prática
c onhecida como “policiamento preditivo” e, ainda que exista
há apenas alguns anos, muitos especialistas a veem como uma
revolução na forma pela qual o trabalho policial é realizado.
Um exemplo é o departamento de polícia de Los Angeles,
que está usando um software chamado PredPol. O software
começa pela análise de anos de estatísticas criminais disponí-
veis, depois divide o mapa de patrulha em zonas (de cerca de
45 metros quadrados) e calcula a distribuição e frequência de
crimes em cada uma delas. Por fim, informa aos policiais sobre
as probabilidades de local e horário de crimes, o que permite
que eles policiem de maneira mais intensa as áreas sob ameaça.
A atraente ideia que embasa o policiamento preditivo é a
de que é muito melhor prevenir um crime antes que aconteça
do que chegar depois e investigá-lo. Assim, mesmo que os
policiais em patrulha não apanhem o bandido em flagrante,
sua presença no lugar certo e na hora certa pode exercer
efeito dissuasório2.
A lógica parece sólida. Em Los Angeles, houve um declí-
nio de 13% na criminalidade. A cidade de Santa Cruz, também
usuária do PredPol, viu queda de 30% no número de furtos.
Mas, apesar do mérito inegável do novo sistema, há
quem questione sua eficácia, uma vez que as ações da polícia
não podem ser guiadas apenas pela interpretação de núme-
ros aproximados. Isso porque, nos regimes democráticos, a
polícia precisa de causa provável – alguma forma de prova, e
não apenas um palpite – para deter e revistar alguém na rua.
Também há o problema dos crimes que passam sem
denúncia. Embora a maioria dos homicídios seja denuncia-
da, muitos estupros e furtos residenciais não são. Mesmo na
a usência desse tipo de denúncia, a polícia continua a desenvol-
ver métodos de descobrir quando algo de estranho acontece em
um bairro. Os críticos do policiamento preditivo temem que
esse conhecimento obtido pela análise atenta que os policiais
fazem de seu entorno seja substituído pela análise exclusiva das
estatísticas. Se apenas dados sobre crimes que foram registrados
em queixas formais forem usados para prever futuros crimes e
orientar o trabalho policial, algumas formas de crime poderão
passar sem registro – e, com isso, sem qualquer repressão.
As recompensas do policiamento preditivo podem ser
r eais, mas seus perigos também o são. A polícia precisa sujei-
tar seus algoritmos a um rigoroso exame externo e enfrentar a
questão das distorções implícitas que carreguem.

1algoritmo: conjunto das regras e procedimentos lógicos que levam à
solução de um problema

2dissuasório: que convence ou tenta convencer a desistir (Evgeny Morozov, tradução de Paulo Migliacci,
www1.folha.uol.com.br, 23.07.2012. Adaptado)

O policiamento preditivo parte do pressuposto de que os atos criminosos podem ser

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Fonte: SOLDADO - 2ª CLASSE / Polícia Militar/SP / 2013 / VUNESP