Simulado Sec. Estadual de Adm. Penitenciária (SEAP/SP) | Executivo Público | 2019 pre-edital | Questão 214

Língua Portuguesa / Sinônimos e antônimos



Veja, aí estão eles, a bailar seu diabólico “pas de deux” (*):
sentado, ao fundo do restaurante, o cliente paulista acena, asso-
via, agita os braços num agônico polichinelo; encostado à pare-
de, marmóreo e impassível, o garçom carioca o ignora com re-
dobrada atenção. O paulista estrebucha: “Amigô?!”, “Chefê?!”,
“Parceirô?!”; o garçom boceja, tira um fiapo do ombro, olha pro
lustre.
Eu disse “cliente paulista”, percebo a redundância: o paulista
é sempre cliente. Sem querer estereotipar, mas já estereotipando:
trata-se de um ser cujas interações sociais terminam, 99% das
vezes, diante da pergunta “débito ou crédito?”.[...] Como pode
ele entender que o fato de estar pagando não garantirá a aten-
ção do garçom carioca? Como pode o ignóbil paulista, nascido e
criado na crua batalha entre burgueses e proletários, compreen-
der o discreto charme da aristocracia?
Sim, meu caro paulista: o garçom carioca é antes de tudo
um nobre. Um antigo membro da corte que esconde, por trás da
carapinha entediada, do descaso e da gravata borboleta, saudades
do imperador. [...] Se deixou de bajular os príncipes e princesas
do século 19, passou a servir reis e rainhas do 20: levou gim tô-
nicas para Vinicius e caipirinhas para Sinatra, uísques para Tom
e leites para Nelson, recebeu gordas gorjetas de Orson Welles e
autógrafos de Rockfeller; ainda hoje fala de futebol com Roberto
Carlos e ouve conselhos de João Gilberto. Continua tão nobre
quanto sempre foi, seu orgulho permanece intacto.
Até que chega esse paulista, esse homem bidimensional e
sem poesia, de camisa polo, meia soquete e sapatênis, achando
que o jacarezinho de sua Lacoste é um crachá universal, capaz de
abrir todas as portas. Ah, paulishhhhta otááário, nenhum emble-
ma preencherá o vazio que carregas no peito - pensa o garçom,
antes de conduzi-lo à última mesa do restaurante, a caminho do
banheiro, e ali esquecê-lo para todo o sempre.
Veja, veja como ele se debate, como se debaterá amanhã,
depois de amanhã e até a Quarta-Feira de Cinzas, maldizendo a
Guanabara, saudoso das várzeas do Tietê, onde a desigualdade
é tão mais organizada: “Ô, companheirô, faz meia hora que eu
cheguei, dava pra ver um cardápio?!”. Acalme-se, conterrâneo.
Acostume-se com sua existência plebeia. O garçom carioca não
está aí para servi-lo, você é que foi ao restaurante para homena-
geá-lo.

(*) Um tipo de coreografia, de dança. (Antonio Prata, Cliente paulista, garçom carioca. Folha de S.Paulo, 06.02.2013)

O sentido de marmóreo (adjetivo) equivale ao da expressão de mármore. Assinale a alternativa contendo as expressões com sentidos equivalentes, respectivamente, aos das palavras ígneo e pétreo.

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Fonte: ESCREVENTE TéCNICO JUDICIáRIO / TJ/SP / 2013 / VUNESP