Simulado Secretaria de Portos - SEP/PR | Analista Técnico Administrativo | 2019 pre-edital | Questão 262

Língua Portuguesa / Domínio da estrutura morfossintática do período / Emprego dos sinais de pontuação


No texto abaixo, Graciliano Ramos narra seu encontro
com Nise da Silveira.

Chamaram-me da porta: uma das mulheres recolhidas à
sala 4 desejava falar comigo. Estranhei. Quem seria? E onde
ficava a sala 4? Um sujeito conduziu-me ao fim da plataforma,
subiu o corrimão e daí, com agilidade forte, galgou uma janela.
Esteve alguns minutos conversando, gesticulando, pulou no
chão e convidou-me a substituí-lo. Que? Trepar-me àquelas
alturas, com tamancos?
Examinei a distância, receoso, descalcei-me, resolvi ten-
tar a difícil acrobacia. A desconhecida amiga exigia de mim um
sacrifício; a perna, estragada na operação, movia-se lenta e
perra; se me desequilibrasse, iria esborrachar-me no pavimento
inferior. Não houve desastre. Numa passada larga, atingi o vão
da janela; agarrei-me aos varões de ferro, olhei o exterior,
zonzo, sem perceber direito por que me achava ali. Uma voz
chegou-me, fraca, mas no primeiro instante não atinei com a
pessoa que falava. Enxerguei o pátio, o vestíbulo, a escada já
vista no dia anterior. No patamar, abaixo de meu observatório,
uma cortina de lona ocultava a Praça Vermelha. Junto, à direita,
além de uma grade larga, distingui afinal uma senhora pálida e
magra, de olhos fixos, arregalados. O rosto moço revelava
fadiga, aos cabelos negros misturavam-se alguns fios grisalhos.
Referiu-se a Maceió, apresentou-se:
− Nise da Silveira.
Noutro lugar o encontro me daria prazer. O que senti foi
surpresa, lamentei ver minha conterrânea fora do mundo, longe
da profissão, do hospital, dos seus queridos loucos. Sabia-a
culta e boa, Rachel de Queiroz me afirmara a grandeza moral
daquela pessoinha tímida, sempre a esquivar-se, a reduzir-se,
como a escusar-se de tomar espaço. Nunca me havia aparecido
criatura mais simpática. O marido, também médico, era meu
velho conhecido Mário Magalhães. Pedi notícias dele: estava
em liberdade. E calei-me, num vivo constrangimento.
De pijama, sem sapatos, seguro à verga preta, achei-me
ridículo e vazio; certamente causava impressão muito infeliz. Nise,
acanhada, tinha um sorriso doce, fitava-me os bugalhos enormes,
e isto me agravava a perturbação, magnetizava-me. Balbuciou
imprecisões, guardou silêncio, provavelmente se arrependeu de me
haver convidado para deixar-me assim confuso. (RAMOS, Graciliano, Memórias do Cárcere, vol. 1. São Paulo,
Record, 1996, p. 340 e 341)

Considere as afirmações abaixo.

I. No trecho Chamaram-me da porta: uma das mulheres recolhidas à sala 4 desejava falar comigo. Estranhei. Quem seria? E onde ficava a sala 4? (1º parágrafo), a pontuação contribui para o clima de perplexidade pretendido pelo narrador.

II. As perguntas Que? Trepar-me àquelas alturas, com tamancos? (1º parágrafo) são retóricas, de maneira que se podem suprimir os pontos de interrogação.

III. No segmento ...olhei o exterior, zonzo, sem perceber direito porque me achava ali (2º parágrafo), a vírgula imediatamente após “exterior” pode ser suprimida, sem prejuízo para o sentido original.

Está correto o que se afirma APENAS em

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Fonte: ANALISTA JUDICIáRIO - CONTABILIDADE / TRT 19ª / 2014 / FCC