Simulado Inst. Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE | Agente Censitário Municipal (ACM) | 2020 | Questão 10

Língua Portuguesa / Compreensão e interpretação de textos de gêneros variados


Texto 1A1-I O astrônomo lê o céu, lê a epopeia das estrelas. Ora,
direis, ouvir e ler estrelas. Que histórias sublimes, suculentas,
na Via Láctea. O físico lê o caos. Que epopeias o geógrafo lê
nas camadas acumuladas em um simples terreno. Um desfile de
Carnaval, por exemplo, é um texto. Por isso se fala de
"samba-enredo": a disposição das alas, as fantasias, a bateria,
a comissão de frente são formas narrativas.
Uma partida de futebol é uma forma narrativa. Saber
ler uma partida — esse é o mérito do locutor esportivo, na
verdade, um leitor esportivo. Ele, como o técnico, vê
coisas no texto em jogo que, só depois de lidas por ele, por nós
são percebidas. Ler, então, é um jogo, uma disputa, uma
conquista de significados.
Estamos com vários problemas de leitura hoje.
Construímos aparelhos aprimoradíssimos que sabem ler.
Leem-nos, às vezes, melhor que nós mesmos. Vi na fazenda de
um amigo aparelhos eletrônicos que, ao tirarem leite da vaca,
são capazes de ler tudo sobre a qualidade do leite, da vaca, e
até (imagino) ler o pensamento de quem está assistindo à cena.
Aparelhos complexos leem o mundo e nos dão recados. A
natureza está dizendo que a água, além de infecta, está
acabando. Lemos a notícia e postergamos a tragédia para
nossos netos. É preciso ler, interpretar e fazer alguma coisa
com a interpretação. Affonso Romano de Sant’Anna. Ler o mundo.
São Paulo: Global, 2011, p. 8-9 (com adaptações). Texto 1A1-II Não se sabe ainda se o mundo acabou realmente no
sábado, como fora anunciado. Pode ser que sim, e não seria a
primeira vez que isso acontece. A falta de sinais estrondosos e
visíveis não é prova bastante da continuação. Muitas vezes o
mundo acaba em silêncio, ou fazendo um barulho leve de folha.
Tempos depois é que se percebe, mas já então vivemos em
outro mundo, com sua estrutura e seus regulamentos próprios.
Pessoas que aí estão vivas assistiram à morte do
mundo em agosto de 1914, mas estavam lendo jornal e não
compreenderam no momento. Era apenas mais uma guerra na
Europa, mas acabou com a belle époque
, a respeitabilidade
vitoriana, a supremacia da libra, os suspensórios, os conceitos
econômicos, políticos e éticos do século XIX — mundo que
parecia eterno. Pedaços dele andam por aí, vagando, como o
colonialismo, a opressão de grupos financeiros, a servidão civil
da mulher, mas pertencem a um contexto liquidado,
rabo de lagartixa vibrando depois que o corpo foi abatido.
É possível que a previsão dos astrólogos indianos não
tivesse base, e que o mundo atual dure muitos anos. Acredito
mesmo que é cedo para ele morrer, se apenas está nascendo, e
nem se sabe ao certo como é ou será.
Aos sete anos de idade, imaginei que iria presenciar a
morte do mundo, ou antes, que morreria com ele. Um cometa
mal-humorado visitava o espaço. Mas o cometa de Halley
airosamente deslizou sobre nossas cabeças sem dar confiança
de exterminar-nos. Carlos Drummond de Andrade. Fim do mundo. In: A bolsa e a vida.
São Paulo: Companhia das Letras, 2012, p. 64-5.

No
texto, ao supor que os aparelhos de ordenha de vacas
estão aptos a ler o pensamento das pessoas presentes durante o
processo, o autor sugere que esses aparelhos

Voltar à pagina de tópicos Próxima

Fonte: TéCNICO JUDICIáRIO / TJ/PR / 2019 / CESPE_ME