Simulado Secretaria de Estado da Justiça e da Cidadania de Roraima - SEJUC/RR | Agente Penitenciário | 2020 | Questão 262

Língua Portuguesa / Tipologia e gêneros textuais; Elementos de Comunicação


Mundo de mentira
Paulo Pestana Tem muita gente que implica com mentira,
esquecendo-se de que as melhores histórias do
mundo nascem delas: algumas cabeludas, outras
mais inocentes, sempre invenções da mente, fruto
da criatividade — ou do aperto, dependendo da
situação.
Ademais, se fosse tão ruim estaria na lista
das pedras que Moisés recebeu aos pés do
monte Sinai, entre as 10 coisas mais feias da
humanidade, todas proibidas e que levam ao
inferno; ficou de fora.
A mentira não está nem entre os pecados
capitais, que aliás eram ofensas bem antes
de Cristo nascer, formando um rol de virtudes
avessas, para controlar os instintos básicos da
patuleia. Eram leis. E é preciso lembrar também
que ninguém colocou a mentira entre os pecados
veniais; talvez, seja por isso que o mundo minta
tanto, hoje em dia.
E tudo nasceu na forma mais poética possível,
com os mitos — e não vamos falar de presidentes
aqui — às lendas, narrativas fantásticas que
serviam para educar ou entreter. Entre tantas
notícias falsas, há muitas lendas que, inclusive,
explicam por que fazemos tanta festa para o ano
que começa.
Os japoneses, por exemplo, contam que um
velhinho, na véspera do ano-novo, não conseguiu
vender os chapéus que fabricava e colocou-os
na cabeça de seis estátuas de pedra; chegou em
casa coberto de neve e sem um tostão. No dia
seguinte, recebeu comida farta e dinheiro das
próprias estátuas, para mostrar que a bondade é
sempre reconhecida e recompensada.
Os brasileiros vestem roupas brancas na
passagem do ano, mas poucos sabem que esta é
uma tradição recente, de pouco mais de 50 anos,
e que veio do candomblé, mais precisamente
da cultura yorubá, com os irúnmolés’s funfun —
as divindades do branco. E atenção: para eles,
o regente de 2019 é Ogum, o guerreiro, orixá
associado às forças armadas, ao mesmo tempo
impiedoso, impaciente e amável. Ogunhê!
Mas na minha profunda ignorância eu não
conhecia a lenda da Noite de São Silvestre,
que marca a passagem do ano. E assim foi-me
contada pelo Doutor João, culto advogado, entre
suaves goles de vinho — um Quinta do Crasto
Douro (sorry, periferia, diria o Ibrahim Sued).
Disse-me ele: ao ver a Virgem Maria desolada
contemplando o Oceano Atlântico, São Silvestre
se aproximou para consolá-la, quando ela disse
que estava com saudades da Atlântida, o reino
submerso por Deus, em resposta aos desafios e
à soberba de seu soberano e dos pecados de seu
povo.
As lágrimas da Virgem Maria — transformadas
em pérolas — caíram no oceano; e uma delas
deu origem à Ilha da Madeira — chamada Pérola
do Atlântico, na modesta visão dos locais — ao
mesmo tempo em que surgiram misteriosas luzes
no céu, que se repetiriam por anos a fio; e é por
isso que festejamos a chegada do ano-novo com
fogos de artifício.
Aliás, agora inventaram fogo de artifício sem
barulho para não incomodar os cachorros. A
próxima jogada politicamente correta será lançar
fogos sem luz para não perturbar as corujas
buraqueiras. E isso está longe de ser lenda: é só
um mundo mais chato. Disponível em: <http://df.divirtasemais.com.br/app/noticia/mais-lei-
tor/2018/12/28/noticia-mais-leitor,160970/cronica-de-paulo-pestana.
shtml>. Acesso em: 18 fev. 2019.

O texto apresentado é considerado
uma crônica devido a diversos fatores,
EXCETO por

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