Simulado Agência Nacional de Transportes Aquaviários - ANTAQ | Analista Administrativo - Arquivologia | 2019 pre-edital | Questão 174

Língua Portuguesa / Tipologia textual


Uma aula é como comida. O professor é o cozinheiro.
O aluno é quem vai comer. Se a criança se recusa a comer,
pode haver duas explicações. Primeira: a criança está doente.
A doença lhe tira a fome. Quando se obriga a criança a comer
quando ela está sem fome, há sempre o perigo de que ela
vomite o que comeu e acabe por odiar o ato de comer. É assim
que muitas crianças acabam por odiar as escolas. O vômito está
para o ato de comer como o esquecimento está para o ato de
aprender. Esquecimento é uma recusa inteligente da
inteligência. Segunda: a comida não é a comida que a criança
deseja comer: nabo ralado, jiló cozido, salada de espinafre... O
corpo é um sábio: não come tudo o que jogam para ele, mas
opera com um delicado senso de discriminação. Algumas
coisas ele deseja. Prova. Se são gostosas, ele come com prazer
e quer repetir. Outras não lhe agradam, e ele recusa. Aí eu
pergunto: “O que se deve fazer para que as crianças tenham
vontade de tomar sorvete?”. Pergunta boba. Nunca vi criança
que não estivesse com vontade de tomar sorvete. Mas eu não
conheço nenhuma mágica que seja capaz de fazer que uma
criança seja motivada a comer salada de jiló com nabo. Nabo
e jiló não provocam sua fome.
(...)
As crianças têm, naturalmente, um interesse enorme
pelo mundo. Os olhinhos delas ficam deslumbrados com tudo
o que veem. Devoram tudo. Lembro-me da minha neta de
um ano, agachada no gramado encharcado, encantada com uma
minhoca que se mexia. Que coisa fascinante é uma minhoca
aos olhos de uma criança que a vê pela primeira vez! Tudo é
motivo de espanto. Nunca esteve no mundo. Tudo é novidade,
surpresa, provocação à curiosidade. Quando visitei uma reserva
florestal no Espírito Santo, a bióloga encarregada de educação
ambiental me contou que era um prazer trabalhar com as
crianças. Não era necessário nenhum artifício de motivação. As
crianças queriam comer tudo o que viam. Tudo provocava a
fome dos seus olhos: insetos, pássaros, ninhos, cogumelos,
cascas de árvores, folhas, bichos, pedras. (...) Os olhos das
crianças têm fome de coisas que estão perto. (...) São
brinquedos para elas. Estão naturalmente motivadas por eles.
Querem comê-los. Querem conhecê-los. Rubem Alves. Por uma educação romântica.
Campinas: Papirus, 2002, p. 82-4 (com adaptações).

A respeito das ideias veiculadas no texto acima e de suas estruturas
linguísticas, julgue os itens de 9 a 15.

O texto é predominantemente argumentativo; nele, o autor
expõe suas ideias de forma a convencer o leitor e usa, para esse
fim, imagens do mundo real e exemplos tirados de sua própria
experiência.

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Fonte: PROFESSOR - ESPANHOL / SEEDUC/AM / 2011 / CESPE