Simulado Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro - TJ-RJ | Analista Judiciário - Análise de Sistemas | 2019 pre-edital | Questão 314

Português / Tipologia textual


Distorção negligenciada Embora poucas vezes mencionadas nos debates sobre desigualdades, as doenças negligenciadas demonstram com
perfeição a necessidade de haver mecanismos capazes de corrigir distorções globais.
Em entrevista a esta Folha
, Eric Stobbaerts, diretor − executivo da Iniciativa de Medicamentos para Doenças Negligen-
ciadas (DNDi, na sigla em inglês), lembrou que tais enfermidades ameaçam uma em cada seis pessoas do planeta; não
obstante, entre 2000 e 2011, apenas 4% dos 850 novos medicamentos aprovados no mundo tratavam dessas moléstias.
As listas de moléstias variam de acordo com a agência que tenta capitanear sua causa. Têm em comum o fato de
serem endêmicas em regiões pobres da África, da Ásia e das Américas. Nem sempre fatais, são bastante debilitantes.
Estão nesse grupo, por ordem de prevalência, helmintíase, esquistossomose, filariose, tracoma, oncocercose,
leishmaniose, doença de Chagas e hanseníase. As três últimas e a esquistossomose são as mais relevantes para o Brasil.
A maioria desses distúrbios pode ser prevenida e conta com tratamentos efetivos pelo menos para a fase aguda, mas,
por razões econômicas e políticas, eles nem sempre chegam a quem precisa.
Há, além disso, uma dificuldade relativa à ciência. Algumas das terapias disponíveis já têm quatro ou cinco décadas de
existência. Investimentos em pesquisa poderiam levar a estratégias de prevenção e cura mais efetivas. Como essas doenças
não são rentáveis, porém, os grandes laboratórios raras vezes se interessam por esse nicho.
Organizações como a DNDi e outras procuram preencher as lacunas. A situação tem melhorado, mas os avanços são
insuficientes.
Seria sem dúvida ingenuidade esperar que a indústria farmacêutica se entregasse de corpo e alma à resolução do
problema. Seu compromisso primordial é com seus acionistas − e essa é a regra do jogo. Isso não significa, contudo, que não
possam fazer parte do esforço.
O desejo de manter boas relações públicas combinado com uma política de estímulos governamentais pode produzir
grandes resultados. Também seria desejável envolver com maior intensidade universidades e laboratórios públicos (onde os
há, como é o caso do Brasil).
Mais de 1 bilhão de humanos ainda sofrem, em pleno século 21, com doenças cujo controle é não só possível, mas
também relativamente barato − eis um fato que depõe contra o atual estágio de nossa organização global. (Folha de S. Paulo. Opinião. p. A3, 14/03/2014)

No processo argumentativo adotado no edital,

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Fonte: ANALISTA JUDICIáRIO - OFICIAL DE JUSTIçA AVALIADOR FEDERAL / TRT 16ª / 2014 / FCC