Simulado Tribunal Regional do Trabalho - 9ª Região (PR) | Analista Judiciário - Oficial de Justiça Avaliador Federal | 2019 pre-edital | Questão 982

Língua Portuguesa / Ocorrência de crase


[Gestos e palavras] Uma vez eu estava em Londres numa sala comum da classe média inglesa: a lareira acesa, todo mundo com sua taça de chá,
a família imersa naquela naturalidade (chega a parecer representação) com que os ingleses aceitam a vida. Os ingleses, diz o poeta
Pessoa, nasceram para existir!
A certa altura um garoto de uns dez anos começou a contar uma história de rua, animou-se e começou a gesticular. Só
comecei a perceber o que se passava quando notei que aquele doce sorriso mecânico, estampado em cada rosto de todas as
pessoas da família, sumiu de repente, como se uma queda de voltagem interior houvesse afetado o sorriso coletivo. Olhos de avó,
mãe, tias e tios concentraram-se em silêncio sobre o menino que continuava a narrativa com uma inocência maravilhosa. Diante
disso, uma das senhoras falou para ele com uma voz sem inflexões: “Desde quando a gente precisa usar as mãos para conversar?”
Vi deliciado o garoto recolher as mãos e se esforçar para transmitir o seu conto com o auxílio exclusivo das palavras. O sorriso
de todos iluminou de novo a sala: a educação britânica estava salva.
Imaginemos um garoto italiano de dez anos que fosse coarctado* pela família em seus gestos meridionais. Seria uma
crueldade, uma afetação pedagógica, uma amputação social. Daí cheguei à conclusão óbvia: os ingleses educam os filhos para que
eles venham a ser ingleses, os italianos, para que venham a ser italianos.

*Coarctar: reduzir-se a limites mais estritos; restringir, estreitar (CAMPOS, Paulo Mendes. O amor acaba. São Paulo: Companhia das Letras, 2013, p. 209-210)

Observam-se as normas que regem o emprego dos sinais de crase e de pontuação em:

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Fonte: CONSULTOR LEGISLATIVO - MEIO AMBIENTE / CLDF / 2018 / FCC