Simulado Tribunal Regional do Trabalho - 3ª Região (MG) | Analista Judiciário - Contabilidade | 2019 pre-edital | Questão 349

Português / Regência nominal e verbal


Ainda aluna de medicina, Nise da Silveira se horrorizou
ao ver o professor abrir com um bisturi o corpo de uma jia e dei-
xar à mostra, pulsando, seu pequenino coração.
Esse fato define a mulher que iria revolucionar o trata-
mento da esquizofrenia e pôr em questão alguns dogmas estéti-
cos em vigor mesmo entre artistas antiacadêmicos e críticos de
arte.
A mesma sensibilidade à flor da pele que a fez deixar,
horrorizada, a aula de anatomia, levou-a a se opor ao trata-
mento da esquizofrenia em voga na época em que se formou: o
choque elétrico, o choque insulínico, o choque de colabiosol e,
pior do que tudo, a lobotomia, que consistia em secionar uma
parte do cérebro do paciente. Tomou-se de revolta contra tais
procedimentos, negando-se a aplicá-los nos doentes a ela
confiados. Foi então que o diretor do hospital, seu amigo,
disse-lhe que não poderia mantê-la no emprego, a não ser em
outra atividade que não envolvesse o tratamento médico. − Mas
qual?, perguntou ela. − Na terapia ocupacional, respondeu-lhe o
diretor.
A terapia ocupacional, naquela época, consistia em pôr
os internados para lavar os banheiros, varrer os quartos e ar-
rumar as camas. Nise aceitou a proposta e, em pouco tempo,
em lugar de faxina, os pacientes trabalhavam em ateliês impro-
visados, pintando, desenhando, fazendo modelagem com argila
e encadernando livros. Desses ateliês saíram alguns dos artis-
tas mais criativos da arte brasileira, cujas obras passaram a
constituir o hoje famosíssimo Museu de Imagens do In-
consciente do Centro Psiquiátrico Nacional, situado no Engenho
de Dentro, no Rio.
É que sua visão da doença mental diferia da aceita por
seus companheiros psiquiatras. Enquanto, para estes, a loucura
era um processo progressivo de degenerescência cerebral, que
só se poderia retardar com a intervenção direta no cérebro, ela
via de outro modo, confiando que o trabalho criativo e a expres-
são artística contribuiriam para dar ordem e equilíbrio ao mundo
subjetivo e afetivo tumultuado pela doença.
Por isso mesmo acredito que o elemento fundamental
das realizações e das concepções de Nise da Silveira era o
afeto, o afeto pelo outro. Foi por não suportar o sofrimento im-
posto aos pacientes pelos choques que ela buscou e inventou
outro caminho, no qual, em vez de ser vítima da truculência mé-
dica, o doente se tornou sujeito criador, personalidade livre
capaz de criar um universo mágico em que os problemas
insolúveis arrefeciam. (Adaptado de: GULLAR, Ferreira. A Cura pelo Afeto. Resmun-
gos, São Paulo: Imprensa Oficial, 2007)

Desses ateliês saíram alguns dos artistas mais criativos...



O segmento cujo verbo possui, no contexto, o mesmo tipo de complemento do grifado acima é:

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Fonte: ANALISTA JUDICIáRIO - CONTABILIDADE / TRT 19ª / 2014 / FCC